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MUDANÇA DE PARADIGMA

Este é um dos pontos altos do calendário de provas da Revista de Vinhos que marca, desde logo, a aproximação da época natalícia. A prova temática dos topos de gama brancos reúne, desta feita, mais de 150 exemplares de praticamente todas as regiões do país. Se outras confirmações fossem necessárias, esta prova atesta a evolução do perfil dos vinhos, exemplares que demonstram elegância, frescura, interpretação do lugar e enorme capacidade de evolução. E, sobretudo, do mercado. Os vinhos brancos portugueses que chegam ao mercado como topos de gama cumprem, cada vez, essa premissa. Ou seja, mostram, seja qual for a região de onde são originários, reunir os requisitos que formam o “caderno de encargos” necessário para tanto. Desde logo, o cuidado posto nas vinificações, com a utilização equilibrada da madeira ou…

MUDANÇA DE PARADIGMA

FITA PRETA

Filho de pai açoriano e mãe alentejana, António Maçanita afirmou-se como dos enólogos mais criativos da sua geração. Nestes últimos anos tem aliado a função de consultor (em mais de uma dezena de produtores) à de autor de vinhos próprios. Se nos Açores tornou a Azores Wine Company na locomotiva do renascimento dos vinhos do Pico, na fase da maturidade da Fita Preta está a aportar novos Alentejos à região que possui a maior diversidade de solos do nosso país. Depois de experiências na Califórnia, Austrália e França, António Maçanita chegou ao Alentejo com 23 anos e a vontade de fazer um vinho próprio. Encontrou o viticultor britânico David Booth, que na altura prestava consultoria a diferentes produtores da região, e juntos criaram a Fita Preta. O Sexy foi um sucesso…

FITA PRETA

ARRIBAS WINE COMPANY

Frederico Machado, biólogo, e Ricardo Alves, agrónomo, conheceram-se no mestrado de Enologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Decidiram, entretanto, calcorrear mundo, a que se seguiram experiências em diferentes projetos nacionais. Em 2017, estava Frederico a regressar de uma vindima na Austrália e Ricardo de outra, na África do Sul, reencontraram-se para fazerem vinhos de intervenção mínima a partir de vinhas velhas. O bisavô e o avô de Frederico eram de Bemposta, Mogadouro. O pai disse-lhes para pesquisarem por vinhas velhas naquela zona e se o fizeram em abril, em julho conseguiram o primeiro acordo de exploração de uma vinha e, em agosto, já preparavam o esboço do que seria o primeiro Saroto tinto. Exploram um total de 15 parcelas, que perfazem pouco mais de 10 hectares. Sempre vinhas…

ARRIBAS WINE COMPANY

A próxima geração

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Portugal estava no topo da minha lista quando retomei as viagens no passado mês. As condições pareciam adequadas. Desde que fui vacinada duas vezes no verão, Portugal alcançou o topo das tabelas de vacinação da Europa, além de ultrapassar os britânicos no uso de máscara com a sua política "vaccine plus" (por oposição à nossa "vaccine just"). Sem nuvens a ensombrar os céus, o otimismo estava no ar e, do ponto de vista do vinho, justificadamente. Em Colares e no Alentejo, descobri projetos recentes que, enraizados na tradição, parecem decididos a sobreviver e a prosperar. Também há sinais de que a última colheita de talentos da Geração Y e da…

A próxima geração

ALTAMENTE RECOMENDADO

18 Já Te Disse Alicante Bouschet Edition Spéciale 2020 Alentejo / Tinto / BMCC Rural 98,50€ / 16ºC Rubi intenso. Frutas vermelhas maduras e em compota (geleia de groselha vermelha), boa madeira nova como pano de fundo. Boca rica e generosa, e mesmo com 15º de álcool, o equilíbrio é plenamente atingido. O final é quente e longo. A escolha de Guilherme Corrêa 18 Quinta do Noval Reserva 2019 Douro / Tinto / Quinta do Noval 54,00€ / 16ºC Púrpura. Floral elegante, complementos de bergamota, groselha e cereja negras, café e especiaria subtis. Portentoso, quase selvagem, mostra tanino sólido como rocha, enorme volume e dimensão, muito prolongamento final, com toque vegetal seco. Tem anos para cavalgar. A escolha de António Lopes 17,5 Casa de Mouraz Jaen 2017 Dão / Tinto / António Lopes Ribeiro Wines 13,50€ / 16ºC Rubi, reflexos granada. Notas de pinhal e resina…

ALTAMENTE RECOMENDADO

TRINCADEIRA DAS PRATAS

Casta branca que terá origem no Ribatejo, é precisamente nesta região, renomeada Tejo, que a variedade Trincadeira das Pratas ainda subsiste, numa mancha inferior a 300 hectares, com pequenas expressões no Alentejo e Setúbal. Se considerarmos as três sub-regiões do Tejo – Bairro, Campo e Charneca – será na primeira e na terceira que a variedade encontra a localização mais favorável. Isto porque pede solos profundos, com certa humidade, bem drenados, como os argilo-calcários do Bairro, entre o Tejo e as Serras de Candeeiros e Montemuro e; também, terrenos de charneca, a sul da zona do Campo, com os solos arenosos do Miocénico e do Pliocénico. Casta que abrolha precocemente, apresenta produtividade média entre 8.000 a 15.000 kg/ha. e estabilidade na produção interanual, sendo recomendado o rendimento de 6.000 l/ha. para que…

TRINCADEIRA DAS PRATAS

QUINTA DO MONTE D’OIRO

A Quinta do Monte d’Oiro, localizada em Freixial de Cima, é uma das quintas históricas de Alenquer, na região de Lisboa. A produção de vinho remonta ao séc. XVII e, no séc. XIX, pertenceu ao Visconde de Chanceleiros que aí fez experiências no âmbito da Filoxera. Em 1986, é comprada por José Bento dos Santos, que sempre tinha tido alguma proximidade com a propriedade por, em criança, passar os Verões na vizinha Vila Chã. Engenheiro químico industrial, de percurso reconhecido no mundo da gastronomia, encontrou no Monte d’Oiro o ponto de convergência para muitos dos seus interesses enquanto homem de ciência, de humanidades e de arte - o Vinho. O bom gosto, o rigor e o amor pela terra são as linhas mestras dos vinhos da Quinta do Monte d’Oiro. Os…

QUINTA DO MONTE D’OIRO

Salvador Guedes (1957 – 2022)

A ligação umbilical de Salvador Guedes à Sogrape era inevitável e durou cerca de quatro décadas, muito antes de assumir a liderança do negócio familiar, em 2000. O seu primeiro lugar na Sogrape foi no departamento de marketing, para onde entrou em 1980 – por concurso -, depois de concluir a licenciatura em Gestão de Empresas na City of London Business Polytechnical School e cumprido um estágio nos EUA. Nesse mesmo ano, passou a gestor do mercado interno e, quatro anos mais tarde, a gestor dos mercados da então CEE. Em 1989 foi nomeado Diretor de Marketing e Presidente da Administração da Sogrape Distribuição, passando em março de 1990 a integrar o Conselho de Administração da Sogrape. Com efeito, Salvador Guedes foi o grande impulsionador da expansão e internacionalização da Sogrape,…

Salvador Guedes (1957 – 2022)

2022. Uma vindima de enólogo

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". “A vinha é uma planta do caneco”. A expressão é do enólogo Jorge Rosa Santos, atirada no final de um telefonema em que lhe pedia um comentário acerca do decorrer das vindimas. Ainda não eram meados de setembro e a sensação partilhada tinha contraditórios – a apanha decorria sem sobressaltos relevantes no Alentejo, a preocupação estava toda com o Douro, havendo já confirmação de perdas de mais de 50% de uva branca no Douro Superior. Em finais de agosto, já com os trabalhos a grande ritmo por todo o país, chegavam relatos de temor de diferentes regiões. Casos havia em que…

2022. Uma vindima de enólogo

O terroir é sobrevalorizado?

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Como mudaram as atitudes no mundo do vinho! Quando comecei a provar vinhos, em meados da década de 1990, os ‘flying winemakers’ eram os heróis. Técnicos formados na escola do Novo Mundo começariam a ter consultorias no Velho Mundo. Estes ‘enólogos voadores’ vinham para a Europa, iam a antigas adegas bafientas, limpavam-nas e mostravam como fazer vinhos frutados. E muitos desses ‘heróis voadores’ fizeram um bom trabalho, principalmente com os vinhos mais baratos. Muitas adegas que estavam a batalhar para produzir vinhos que os novos consumidores queriam, passaram a ter, num repente, algo frutado e…

O terroir é sobrevalorizado?

DE VOLTA ÀS CASTAS HÍBRIDAS Serão o remédio para os desafios da viticultura?

Antes do copo, antes da garrafa e antes da adega: a vinha. Onde tudo começa e onde ciclicamente decorre um trabalho nobre de uma indústria sem telhado. Comecemos pelo problema: a pressão das doenças de que a viticultura padece é grande na atualidade. Mas nem sempre foi assim. Muitos recordarão ainda os tratamentos de prevenção ou cura que as gerações mais velhas faziam, há algumas décadas. Resumiam-se sobretudo a uma “calda bordalesa”, um fungicida à base de cobre, com baixo impacto na fauna e na flora, homologado no modo de agricultura biológica. E a sua aplicação não era massiva. Hoje, a realidade da viticultura, como da agricultura, mostra-nos um cenário substancialmente diferente. Por campanha – do início do ciclo da videira até à vindima – são feitos diversos tratamentos, com diversos…

DE VOLTA ÀS CASTAS HÍBRIDAS Serão o remédio para os desafios da viticultura?

A queda e ascenção da cortiça

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Portugal é o berço da cortiça. Com mais de 700 hectares de montado de sobreiro, o país gera pouco mais de metade da cortiça mundial. A Espanha surge em segundo lugar, com pouco mais de 30% da produção de cortiça, seguindo-se um conjunto de países do Mediterrâneo que compõem o restante. É uma substância natural notável que - quando de boa qualidade - é capaz de preservar um vinho em garrafa por mais tempo do que uma vida humana. Mas é natural e as suas falhas têm estado sob escrutínio em anos recentes. Durante muito tempo,…

A queda e ascenção da cortiça

A avaliação de vinhos em concursos

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Concluo hoje o meu trabalho como ‘co-chair’ do International Wine Competition em Londres. Nas últimas duas semanas, uma equipa de jurados esteve ocupada a avaliar milhares de vinhos e a medalhar os melhores. Existem muitas competições como esta na indústria do vinho e algumas são melhores que outras. Servem um propósito útil se puderem guiar os consumidores de maneira fiável para bons vinhos e avaliarem com justiça o trabalho dos produtores. Mas levantam algumas questões interessantes. Primeiro, como decidimos quais são os melhores vinhos? Depois, perante um alinhamento de garrafas, como as provamos e lançamos um…

A avaliação de vinhos em concursos

O fim da barrica de carvalho?

A barrica de carvalho, de longe a mais fotogénica do cosmos vinícola, é o único objeto que hoje se utiliza para algo que não foi concebido. Estes recipientes de madeira foram desenhados como vasilhas de transporte, pois eram mais resistentes, mais leves e fáceis de rodar e girar, em comparação com as antigas e pesadas ânforas gregas e egípcias que eram transportadas nas embarcações que sulcavam o litoral mediterrâneo. Da necessidade, como em tantas coisas, chegou-se à virtude, e alguém descobriu por acaso que, depois de um longo percurso nas pipas, os vinhos sofreram mudanças que mais lhes aprazia. Nascia assim o estágio em madeira. Estes atributos podem produzir-se em recipientes de cimento de tamanhos menores aos usados ​até agora, os novíssimos “ovos”, que são recipientes de fábrica, bem como as…

O fim da barrica de carvalho?
Propósito e intenção

Propósito e intenção

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Ser ‘credenciada’ como juiz nunca deixa de me trazer um sorriso aos lábios. Tendo sido litigante durante os meus dias de advogada, percebi que tornar-se juiz foi o topo para alguns dos meus colegas. A peruca, as vestes, a cadeira especial e, claro, o poder e o estatuto. Mas, e o peso da responsabilidade? Como litigante comercial, nunca fui obrigada a declarar 'mens rea' (a intenção que subjaz à prática de um crime), mas a intenção divina entra certamente na avaliação de vinhos. Foi fascinante os ouvir meus colegas juízes a especularem sobre intenção dos enólogos durante o Tasmanian Wine Show, em janeiro. Os nossos líderes de painel, dois dos…

António Guedes (1939-2022)

Há algo de intemporal, de perpétuo, que perpassa toda a história das empresas familiares, seja qual for o ramo de atividade – o sentido de continuidade, a passagem de testemunho e a preservação de um legado, que continua, cresce e fortalece, de geração em geração. A Aveleda é um desses exemplos e António Guedes uma das suas forças motrizes. Quando Manuel Pedro Guedes da Silva da Fonseca herda a Quinta da Aveleda em 1870, parte do extinto Morgadio da Aveleda, instituído em 1692, dá início a uma nova estratégia e linha de ação, focadas essencialmente na vitivinicultura. Esse foi o primeiro passo do legado, que deixou uma marca indelével de progresso e estabilidade na região dos Vinhos Verdes, pioneirismo sobre o qual a Aveleda celebrou recentemente 150 anos. António Guedes recebeu a…

António Guedes (1939-2022)

THE VINE HOUSE O Douro da Quinta de S. Luiz

Porque todos merecemos momentos de ócio e de pura preguiça. A recuperação do imóvel teve em linha de conta a manutenção da traça exterior original, dotando, contudo, os 11 quartos, dos quais seis com varanda, de todas as modernas comodidades A emblemática e histórica Quinta de S. Luiz, associada à produção dos Vinhos do Porto e Douro da Kopke, marca que integra o grupo Sogevinus, tem vindo a sofrer um avultado investimento em anos mais recentes, não apenas no que concerne às benfeitorias de que tem sido alvo, como também no estreitar das ligações quanto à dimensão patrimonial e cultural da propriedade, desde logo, por exemplo, dos muros da quinta, tradicionalmente pintados de branco, que constituem a nova assinatura visual dos vinhos do Douro S. Luiz. O mais recente passo desta estratégia de…

THE VINE HOUSE O Douro da Quinta de S. Luiz

CONDE VIMIOSO

Criada em 1994 por João Portugal Ramos, a Falua foi adquirida em 2017 pelo grupo francês Roullier, um dos principais players internacionais nos setores agroquímico e de nutrição vegetal e animal, presente em 130 países e agregando mais de 8.000 colaboradores, totalizando um volume de negócios superior a dois mil milhões de euros. Desde o início de 2020, o grupo passou igualmente a deter a operação na região dos Vinhos Verdes (sub-região de Monção e Melgaço), esperando-se dali uma produção média anual nunca superior a 250.000 garrafas. Em Almeirim, a sede, a Falua engarrafa quatro milhões de unidades, 350.000 de Conde Vimioso. A marca tornou-se das mais dinâmicas e emblemáticas da região do Tejo. Manteve as gamas Colheita e Reserva e trouxe para o mercado outros patamares e versões, sobretudo pensadas…

CONDE VIMIOSO

BEIRA INTERIOR Vinhos exclusivos, com identidade

Região raiana, a Beira Interior é feita de planaltos, vinhas velhas e castas autóctones. Delimitada pelas serras da Estrela, Marofa e Malcata, a altitudes entre os 400 e os 800 metros, dotada de fortes amplitudes térmicas, possui um historial secular - mas foi demarcada apenas em 1999. A Beira Interior integra três sub-regiões: Castelo Rodrigo, Cova da Beira (Fundão, Belmonte e Covilhã) e Pinhel. A região abarca 20 concelhos, com uma grande diversidade de terroirs, gastronomia e património, que vai desde a Mêda e Figueira de Castelo Rodrigo até Vila Velha de Rodão, Proença-a-Nova e Sertã. Rica e antiga em história, tem no granjeio da vinha e na produção de vinho a prova das suas origens ancestrais, atestadas na distribuição de lagares rupestres ou, até, na talha romana intacta que podemos admirar…

BEIRA INTERIOR Vinhos exclusivos, com identidade
A sinceridade compensa?

A sinceridade compensa?

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". Mentir é feio. Essa será porventura uma das primeiras lições que nos ensinam em criança, sempre com o fito de criar uma saudável relação de confiança, que se pretende mútua e duradoura, de preferência à prova de bala. Já em adulto aprendemos a lidar e até a perdoar a mentirinha piedosa. Acaba por tornar tudo mais fácil, não obriga a grandes confrontações, muito menos a substanciar a divergência de opiniões ou de decisões. Uns povos toleram mais isso do que outros. Por exemplo, admiro a forma quase sempre frontal com que alguns anglo-saxónicos tratam a mentira – evitam-na, optando pela sinceridade.…

O enólogo encontrou o gestor Paulo Laureano e Luis Vieira juntos no Alentejo

O enólogo encontrou o gestor Paulo Laureano e Luis Vieira juntos no Alentejo

Para ver e ouvir Quando um dia se escrever o historial contemporâneo dos vinhos alentejanos haverá certamente um capítulo dedicado a Paulo Laureano. O professor tornou-se num dos mais profícuos enólogos da região, tendo assumido a consultoria de diferentes projetos, de dimensões também distintas. A esfera de influência não se limitou à geografia que é foco desta reportagem, tendo sido alargada a regiões menos óbvias, como os Açores e a Madeira, por exemplo. A partir do momento em que decidiu também produzir vinho em nome próprio, boa parte desse trabalho de consultoria terminou. As que mantém hoje permitem-no continuar a encarar os vinhos que são seus com a ponderação que gosta, embora as viagens constantes e as dores de cabeça que qualquer gestor tem que enfrentar no dia a dia momentaneamente o…

grandes TINTOS Razão e emoção

Ao enquadrarmos o segmento dos vinhos de gamas superiores portugueses, constatamos que, em poucas décadas, Portugal passou de um país em que, até aos anos 90 do século passado, eram poucos os tintos verdadeiramente assinaláveis como sendo de topo. Foi a partir desta década que a verdadeira revolução dos vinhos conseguiu-se através do gigantesco salto dado pelas ciências enológica e vitícola. É verdade que, sobretudo com a viragem do milénio, Portugal (tal como o resto do mundo), abraçou a doutrina de Parker, pela qual vinho de categoria superior era-o na direta proporção das características resultantes da extração, potência, concentração e utilização de madeira nova. Mas, tal como os melhores vinhos ganham com a passagem dos anos, também em Portugal essa doutrina esbateu-se, com vinhos de perfil mais ameno e amigável, que…

grandes TINTOS Razão e emoção

LUÍS PATO 40 anos de carreira marcados pela inovação

Já faltam adjetivos para definir e caracterizar Luís Pato, a grande referência na produção de vinhos e espumantes da Bairrada, o defensor-mor da Baga como casta de afirmação bairradina, o “Sr. Baga” ou o “Sr. Bairrada”, como preferirmos designá-lo. A comemorar 40 anos de carreira – que, na verdade, são 42 anos se contarmos com o período da pandemia – Luís Pato fez o seu primeiro vinho em 1980. O regresso a esses primórdios fica aqui registado em discurso direto: “Fiz um vinho como era tradicional, com engaço, em lagares. Até usei gesso enológico para acidificar o vinho, que era o que se usava no tempo da guerra, em tempos de escassez, em vez de ácido tartárico. Aliás, fiz um vinho clássico em lagares e outro mais moderno, para a época,…

LUÍS PATO 40 anos de carreira marcados pela inovação

A tipicidade morreu

José Peñin é um dos mais influentes críticos e ‘wine writers’ de Espanha, responsável pelo primeiro guia de vinhos do país irmão, o famoso Peñin, cuja primeira edição foi publicada em 1990. Atualmente, os traços de identidade de uma zona ou território desapareceram. Embora os vinhos de hoje sejam globalmente superiores aos do passado, por outro lado, a personalidade de cada território, zona vitícola ou até regiões e países é mais difícil de detectar em prova cega. Três razões impõem essa constatação: a primeira é que, devido ao maior número e aos melhores enólogos que utilizam as ferramentas de trabalho do mais recente modelo disponível com o objetivo comum de elaborar o melhor e mais original vinho, geram forte competição entre si, sem ter em conta o perfil de identidade da…

A tipicidade morreu

O futuro dos vinhos de topo

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Participei recentemente numa conferência ao estilo ‘think tank’ em Stellenbosch, África do Sul. Organizada por uma empresa chamada Areni, a iniciativa reuniu uma seleção variada de participantes de todo o mundo do vinho para pensar e debater sobre uma série de questões. O tema era o futuro dos vinhos de topo, o que gerou uma gama mais ampla de tópicos de discussão do que normalmente se esperaria num evento de vinhos, incluindo uma sessão que analisou a exploração espacial e outra que discutiu o papel dos NFT’s e ‘blockchains’. A conferência pretendia ser colaborativa. Todos os…

O futuro dos vinhos de topo

O jogo de cintura do Alvarinho

Para ver e ouvir 50 vinhos, das novidades às edições de colecionador O que distingue uma grande casta das restantes? Para lá das propriedades intrínsecas, a plasticidade, isto é, os bons resultados com diferentes tipos de abordagem, na vinha e na adega. Há muito que o Alvarinho demonstra ser dos melhores casos de estudo nesse capítulo. Por melhor que o conheçamos, um determinado ano ou uma determinada forma de o interpretar motiva espanto geral, ora porque nos surpreendeu pela vivacidade ora porque nos obrigou a refletir acerca de um determinado território. Monção e Melgaço, a sub-região que lhe dá berço em Portugal, dá sinais de entrar na fase da maturidade, aquela que lhe permite continuar um caminho de sucesso e até de alguma inovação ao mesmo tempo que tem histórico para mostrar e se…

O jogo de cintura do Alvarinho

TAP

VOA COM SELEÇÃO DA REVISTA DE VINHOS E GULA A atual carta de vinhos a bordo dos voos da TAP tem nariz e dedo dos provadores da Revista de Vinhos e da congénere brasileira Gula. É a mais recente etapa no âmbito da parceria acordada entre a publicação e a transportadora área portuguesas, inicialmente estabelecida em 2020. “Era para nós importante apoiarmo-nos na força que a Revista de Vinhos tem nas várias plataformas de comunicação – televisão, rádio, digital e imprensa escrita – e com a Gula traz-nos a ponte com o Brasil, o nosso principal mercado”, começa por sublinhar Joel Fragata, Head of In-Flight & On-Ground Product da TAP. O projeto, que se designa por TAP Wine Experience, é abrangente e também inclui outras ferramentas. “Desenhamos uma série de conteúdos para serem exibidos…

TAP

A Wine Detective investiga o poder de ligação: pessoas, lugares, cultura e vinho

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Embora as restrições de viagem tenham terminado em grande parte, as provas virtuais parecem destinadas a continuar. O fator conveniência (especialmente com opções de reprodução) significa que estas podem gerar um público mais amplo, reduzindo a pegada de carbono. O custo de despachar amostras é insignificante em comparação com as despesas de aluguer de um espaço para eventos, copos e cuspideiras, isto sem referir as equipas. Ganhei novo respeito pelos produtores, por terem lutado com muitas embalagens embrulhadas com excesso de zelo e um ciclo aparentemente interminável de lavagem de copos e eliminação ou arrumação de garrafas durante a pandemia. O chamado 'shovel of shame' (ou seja, colocar garrafa após…

A Wine Detective investiga o poder de ligação: pessoas, lugares, cultura e vinho

PORTUGAL, A NOSSA BANDEIRA

Poderia ter sido somente uma excelente apresentadora de televisão, mas foi mais além. Poderia ter ficado pela recolha e tratamento do receituário tradicional português, mas foi mais além. Ir mais além, ver para lá do espelho, é o que cria riqueza, o que inspira. Maria de Lourdes Modesto conseguiu-o. Na sua vida nada parece ter sido ensaiado ou premeditado, nem mesmo o programa semanal que durante anos apresentou na RTP, inaugurando o conceito agora tão comum de cozinha ao vivo. Chegou a todos aqueles que tinham acesso a uma televisão, em 1958. Sem plataformas digitais, com pouca ou nenhuma interação permitida, Maria de Lourdes Modesto criou uma dinâmica própria. Para além da receita apresentada, garantia a recolha de vasta e rica matéria bruta, que soube transformar num património com um valor…

PORTUGAL, A NOSSA BANDEIRA

PEDRO SILVA REIS

Numa entrevista à Revista de Vinhos quando cumpre 40 anos de carreira, Pedro Silva Reis, presidente da Real Companhia Velha, diz acreditar que, no Douro, o melhor está para vir: “Para quem já aqui anda há 40 anos e vi tantas alterações – mas não tantas como gostaria de ter visto – acredito que as novas gerações vão ser capazes de mudar a mentalidade no Douro, mudar as atitudes, mudar as práticas, encarar o negócio de outra forma, de maneira a valorizar o Douro e os seus produtos.” Pedro Silva Reis, presidente da Real Companhia Velha, está a cumprir 40 anos de carreira na empresa, onde se iniciou em 1982 como provador de Vinho do Porto, então recém-regressado de Bordéus, onde se formou em enologia. Nas últimas quatro décadas revolucionou a empresa,…

PEDRO SILVA REIS

Valados de Melgaço

Artur Meleiro, consultor de gestão durante mais de 20 anos em Lisboa, nunca perdeu de vista as vinhas que o viram nascer e crescer em Melgaço, na Quinta de Golães. Localizada a meia encosta, a 150 metros de altitude e a 800 metros do rio Minho, Artur recorda os tempos do avô e, mais tarde, do pai e dos tios, em que o negócio era a venda de uvas, sobretudo tintas, que isto de brancos em Monção e Melgaço é coisa recente. Mas, já nessa época, o pai e os tios faziam vinho para consumo próprio e, com o tempo, floresceu o sonho de vinificar com marca própria. “O meu pai era responsável pela viticultura da quinta. Este projeto de criar uma marca nossa vinha dessa altura e tínhamos as…

Valados de Melgaço

Um novo enoturismo no Dão, um branco improvável no Douro

No regresso à Taboadella experienciamos as valências do novo enoturismo, casa de traça senhorial e comodidades contemporâneas, loja e wine bar. Nos vinhos, os novos monocastas do Dão e os mais recentes lançamentos da duriense Quinta Nova, que estreia um blanc de noir de Tinta Roriz. Aos poucos, a Taboadella, que a Amorim adquiriu em 2018, vai ficando com a pinta que a família nos habituou a partir do momento em que revolucionou a Quinta Nova, no Douro. No vizinho Dão há complementaridade de recursos, mas a ideia é preservar uma identidade própria, nem misturar conceitos nem confundir valências. “Queremos respeitar a essência, a identidade de cada região”, garante a produtora Luisa Amorim. Quis a pandemia que a inauguração oficial da nova Taboadella acontecesse apenas em 27 de maio último, na presença…

Um novo enoturismo no Dão, um branco improvável no Douro
Debate em torno de uma casta: África do Sul encontra o Loire

Debate em torno de uma casta: África do Sul encontra o Loire

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Não há nada de muito original em um congresso de vinhos focado numa única casta – já estive em conferências de Sauvignon Blanc na Áustria e na Nova Zelândia, e eventos de Pinot Noir em Oregon e Nova Zelândia, mas a razão pela qual descreveria o Congresso de Chenin Blanc como notável é porque conseguiu realmente unir duas regiões vitivinícolas bastante diferentes num espírito de união e amizade que seria difícil de prever. Dos 350 delegados do congresso, realizado no STIAS, nos arredores da cidade, havia 70 viticultores de Anjou, Saumur e Vouvray, no Loire. É…

NAILING THE BASICS OF ACTIVE FLYING

NAILING THE BASICS OF ACTIVE FLYING

Whenever you fly, wherever you travel, you need to know about active flying – and apply what you know. So let’s cover it here. In smooth air, glider and pilot glide in unison. When you fly through turbulent air though, your wing can become disturbed, causing you to swing in an unbalanced way, which can expose you to greater risk of collapse and rapid height loss. You need to calm the movement so you fly in harmony again. This is active flying. Most wings are designed to recover by themselves, so why do you need to do anything? Paragliders are incredible aircraft, but a little corrective input can greatly improve their recovery time. Developing your active flying skills also allows you to reduce the movements and hugely improve your gliding performance. Watch out!…

DIANA PEIXOTO

DIANA PEIXOTO

PONTEVEDRA, ESPANHA Recuamos até à infância e origens da Diana. Guimarães, correto? Sou de Guimarães e toda a minha vida vivi lá. No secundário fiz um curso técnico de cozinha e foi onde tudo começou. O primeiro estágio foi no restaurante Buxa, de cozinha tradicional no centro de Guimarães. Nessa altura apercebi-me que estar 10 ou 12 horas numa cozinha não era para mim. O que gostava mesmo era estar em contacto com os clientes. Na altura falei com o responsável do restaurante e transferi-me para a sala. Depois terminei o curso e comecei a minha carreira, numa área mais ligada à gestão hoteleira. Recorda-se do momento em que percebeu que estaria dedicada ao mundo dos vinhos? O vinho teve uma presença importante na minha vida. Os meus avós sempre fizeram vinho em casa…

CASA DA PASSARELLA VINDIMA 2009

Não há que ter medo das palavras. Se hoje a sub-região da Serra da Estrela é a mais badalada no Dão, em boa parte o deve ao dinamismo, ao atrevimento e à enorme qualidade dos vinhos da Casa da Passarella. Paulo Nunes, “Enólogo do Ano 2019” pela Revista de Vinhos, tem sido o criativo do projeto que a família Cabral assumiu em 2008, em Gouveia. Uma propriedade centenária (1892), agregadora de um manancial importante para alcançar vinhos de exceção – diferentes parcelas de vinhas, algumas muito velhas, que precisam de carinho no tratamento, vontade de interpretação e assertividade no momento de lhes garantir um futuro. Confessamente obcecado por entender melhor o que outros, noutras décadas, fizeram, Paulo Nunes tem procurado redescobrir esse Dão mais antigo, seja através de castas ou de métodos…

CASA DA PASSARELLA VINDIMA 2009

TIAGO SAMPAIO

Parece quase um atrevimento, atribuir um prémio ao enólogo considerado revelação a alguém que celebrou recentemente 20 anos de carreira, entre produtor de vinhos e investigador. Porém, quando esse alguém é tão discreto e humilde na relação inversamente proporcional à sua capacidade técnica e conhecimento, quando os seus vinhos são tão fora da caixa que persistem em darem-se a conhecer fora dos circuitos mais convencionais, quando esse alguém é Tiago Sampaio… acreditamos que não será preciso dizer mais. Neto de um vitivinicultor duriense, foi a ligação ao avô e à memória das vinhas da família que impeliram Tiago Sampaio a fazer do vinho o seu modo de vida. A preservação da herança das vinhas velhas, contudo, motivou-o a procurar saber mais sobre o tema. A formação na Escola Profissional Agrícola Conde de…

TIAGO SAMPAIO

FILIPA PATO

O sobrenome denuncia-a. E a verdade é que os primeiros grandes ensinamentos foram-lhe transmitidos pelo pai, Luis Pato, um dos nomes maiores do vinho português. Não menos verdade é que, desde cedo, Filipa deu sinais de querer seguir trajeto próprio, de criar a sua própria história. Licenciou-se em Engenharia Química na Universidade de Coimbra, fez vindimas em Bordéus (França), Mendoza (Argentina) e Margaret River (Austrália), antes de abrir asas e voar sozinha. Em 2001 começou a materializar a elaboração de vinhos pessoais e quem os provava, colheita após colheita, apercebia-se de um caso sério – pela qualidade, diferenciação e consistência. À medida que as viagens para fora do país se sucediam, na fervilhante cena gastronómica da Bélgica cruzou-se com William Wouters, descendente de uma família de restaurateurs, recentemente eleito presidente da Associação…

FILIPA PATO

A CASA ALCOBAÇA

A ligação da Ordem de Cister ao universo do vinho é tão longínqua quanto reconhecida, com a presença destes monges por todo o território nacional a deixar marcas indeléveis na história e património de Portugal. O Mosteiro de Alcobaça é uma dessas marcas, nada menos que uma das primeiras fundações monásticas cistercienses em território português. A fundação da Abadia de Santa Maria de Alcobaça e respetiva Carta de Couto datam de 8 de Abril de 1153 e, a partir de então, esta ordem religiosa, bem como aquela que seria a sua principal casa, gozaram de forte proteção régia, iniciada por D. Afonso Henriques. A partir deste local avançaria toda a dinâmica de expansão dos cristãos para sul. E a construção da abadia foi iniciada em 1178, importância que recrudesceu com a…

A CASA ALCOBAÇA

Os vinhos previsíveis

José Peñin é um dos mais influentes críticos e ‘wine writers’ de Espanha, responsável pelo primeiro guia de vinhos do país irmão, o famoso Peñin, cuja primeira edição foi publicada em 1990. Dada a minha idade, tive a sorte de assistir às mudanças mais importantes ocorridas nos últimos 50 anos no mundo do vinho. A minha vocação de viajante permitiu-me sentir a emoção - e a desilusão - em muitos vinhos. Algo que não sinto atualmente, porque o que vou encontrar é o vinho que imagino. Antes, cada projeto de viagem a uma adega ou local gerava uma curiosidade e vontade tremendas de ir, e quase sempre valia a pena. A satisfação que sentia ao descobrir que o vinho que suspeitava ser de qualidade inferior era a mesma que a deceção…

Os vinhos previsíveis

O trunfo do risco

Para ver e ouvir Joana Santiago chegou ao vinho para ficar. Qual furacão, a advogada revolucionou a propriedade familiar e, inspirada na avó, conseguiu criar marca e trazer para a primeira linha de pensamento a Quinta de Santiago. Concretiza as ideias ao ritmo da impaciência, ou seja, a grande velocidade. De repente, desafiou enólogos, como Pedro Ribeiro e Nuno Mira do Ó, a pensarem com ela novas abordagens em Monção e os resultados são francamente positivos. Neste reencontro com Joana e Nuno Mira do Ó, captamos as novidades. Quinta de Santiago Vinha do Chapim 2020 tem origem numa das mais antigas parcelas da propriedade, que possui muita argila e seixo rolado, junto ao rio Minho. Expõe uma versão desnuda do que pode ser o Alvarinho, com firmeza e tensão, mostrando nesta edição…

O trunfo do risco
ALTAMENTE RECOMENDADO

ALTAMENTE RECOMENDADO

19 Titan of Távora-Varosa Daemon Sescenti Sexaginta Sex 2020 Távora-Varosa/Branco/Luis Leocádio Vinhos 666,00€/11ºC Dourado, reflexos alaranjados. Austero, revela muito solo e notas de limão, maçã e fumo. A precisão de ataque é notável, o nervo é demoníaco, a estrutura é eletricidade de alta voltagem. O final tem muito sabor, breve especiado, nuances oxidativas e salgadas. 18,5 Murganheira Czar Grande Cuvée Rosé Bruto 2016 Távora-Varosa/Espumante/Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa 25,50€/8ºC Tudo neste espumante denota finura e elegância, desde logo na bolha persistente e regular. Aroma fino, com as notas de autólise e pastelaria, a par de fruto seco e cereja fresca. A mousse é cremosa e a acidez vibrante, texturada e ampla. 18,5 Quinta da Gricha Vinha Velha 2014 Douro/Tinto/Churchill Graham 60,00€/16ºC Cor rubi/granada ainda jovem. Aroma inicialmente discreto, abre para notas balsâmicas da madeira. Cedro, resina, ligeiro verniz, algum fruto seco. Mostra ainda…

NOSSA SOLERA DESDE 2001 EXTRA BRUTO

Portugal é reconhecido lá fora como a pátria dos melhores vinhos fortificados do mundo. E também pelos seus grandes vinhos tintos, de uvas indígenas, preços ainda simpáticos e excelente capacidade de guarda. Os nossos grandes brancos começam a mostrar o seu valor, e as grandes marcas de rosés continuam a fazer sucesso nos seus canais. Mas, e os espumantes? Há cada vez mais e melhores bolhas a emergirem de diversas regiões, solos e castas em Portugal. E a Revista de Vinhos, sempre na vanguarda, não hesitou em premiar este ano um magnífico espumante da Bairrada como o melhor vinho do ano. Que esse galardão sirva para abrir caminhos aqui, e no exterior, para os nossos melhores efervescentes! O “power couple” Filipa Pato e William Wouters celebrou os 20 anos da marca…

NOSSA SOLERA DESDE 2001 EXTRA BRUTO

É UM WINE LOVER? DESFRUTE DA QUALIDADE DOS VINHOS EUROPEUS

E FIQUE IN LOVE PELO VINHO VERDE! O que realmente sabe sobre Vinho Verde? Nestas duas páginas partilhamos outras tantas dicas que o ajudarão a elevar a experiência de provar, partilhar e levar à mesa um Vinho Verde. CAMPAIGN FINANCED WITH AID FROM THE EUROPEAN UNION THE EUROPEAN UNION SUPPORTS CAMPAIGNS THAT PROMOTE HIGH QUALITY AGRICULTURAL PRODUCTS 1. Nem quente nem geladinho! Uma temperatura correta de serviço é fundamental para apreciar devidamente o seu Vinho Verde. Tome nota das nossas recomendações: VINHO VERDE BRANCO, PERFIL LEVE E FRESCO Sirva-o em torno dos 10ºC, de modo a preservar os aromas, a frescura e a simplicidade destes vinhos. VINHO VERDE BRANCO, PERFIL COMPLEXO Pode servir em torno dos 12ºC, permitindo assim a correta perceção das texturas e subtilezas destes vinhos, parte dos quais conhece estágios em barrica ou mais tempo de…

É UM WINE LOVER? DESFRUTE DA QUALIDADE DOS VINHOS EUROPEUS

O provador de comidas

J.A. Dias Lopes é considerado a referência do jornalismo gastronómico no Brasil. Escreve atualmente na edição online da “Veja”, já colaborou com várias publicações e é ainda diretor de redação da “Gosto” e autor de vários livros sobre história e gastronomia. O Serviço Secreto dos Estados Unidos, monitorizando dia e noite o autocrata Vladimir Putin, descobriu que o governante russo, nas refeições públicas ou privadas, só começa a comer depois de uma perícia minuciosa dos seus alimentos. Nada mais compreensível. Putin conquistou a reputação de ser craque em venenos. Conhece como poucos os efeitos maléficos dessas substâncias. Já enfrentou várias acusações de envenenamento de opositores. Um dos primeiros casos nos quais foi envolvido ocorreu em 2004, no atentado contra a vida de Viktor Yushchenko, pela razão das inclinações pró-ocidentais da vítima. O…

O provador de comidas

Vinho e investimento

Fortemente dominado pelos vinhos franceses e explorado por empresas sedeadas no Reino Unido, com carteiras de clientes onde predominam chineses, norte-americanos e cada vez mais brasileiros, a análise feita pela Cult Wines, empresa fundada em 2007 e uma das referências neste âmbito, mostra que o vinho tornou-se, num período de 10 anos (2009-2019), num ativo muito procurado para investimento. Além do crescimento constante de valor, o mercado regista a entrada de novos players, neste caso vinhos que não apenas os de Bordéus e da Borgonha, pois os preços estratosféricos que atingiram levaram as empresas e os investidores a apostar noutras denominações – caso do Rhône, França, dos vinhos do Chile e até dos vinhos norte-americanos, nomeadamente de Napa Valley e Oregon, bem como Espanha, com o icónico Unico das Bodegas Y…

Vinho e investimento

WOW – WORLD OF WINE

A dinâmica turística que envolveu o Porto e, mais concretamente, as Caves de Vila Nova de Gaia, gerou a oportunidade para o desenvolvimento um projeto de grande dimensão capaz de, por um lado, oferecer ao mercado algo de único de diferenciador e, em simultâneo, rentabilizar um vasto património imobiliário. Adrian Bridge, CEO do grupo The Fladgate Partnership, teve essa visão e arrojo, ao lançar, em 2013, o projeto World of Wine, que mereceu à época algumas reticências, algumas até internas. Mas sobressai um detalhe: quem o imaginou é o mesmo que um dia ousou erguer o The Yeatman, o hotel que também parecia um sonho desmesurado. Apresentado em 2017, o projeto do WoW, a cargo do gabinete internacional Broadway Malyan, deveria transformar-se em realidade o ano transato. O que aconteceu, mais…

WOW – WORLD OF WINE

NIEPOORT

Para ver e ouvir O conforto de quem conhece o mundo do vinho como a palma da mão e a serenidade que só a idade aporta dão a entender um novo Dirk, ou melhor, um novo tempo na Niepoort. “Estou a pegar mais pela empresa pelos cornos, mas não a estou a gerir ´by the book’”, diz. No dia do 57º aniversário de Dirk Niepoort, a Revista de Vinhos provou o novo Porto Vintage 2019 e ainda o mais recente fruto da parceria com o chefe de cozinha Ljubomir Stanisic. Estreamos o que será uma mesa de privilegiados, desvendamos um clube privado de vinhos e um enoturismo que darão que falar e captamos o momento da serenidade de quem nos garante que continuará a pensar fora da caixa. Mas, vamos por partes. A…

NIEPOORT
2021 Altamente Recomendados

2021 Altamente Recomendados

18,5 Underdog Orange 2020 IVV / Branco / Volátil & Exótico 28,00€ / 11ºC Cor apelativa, aromas frescos, fruta madura, notas florais ligeiras, casca de laranja. Elegante e envolvente. Seco, boa acidez, fresco, frutado, a nota do contacto pelicular presente, suaves taninos, vibrante, encorpado, rico e final apetecível. Escolha acertada para petiscos portugueses. A escolha de Rodolfo Tristão 18 Dona Sylvia Grande Reserva 2015 Douro / Tinto / Quinta dos Frades 52,29€ / 16ºC Cor vermelha, frutado, frutos vermelhos maduros, ameixa, amora, notas florais ligeiras, esteva suave. A presença de madeira envolve estes aromas com o toque especiado. Seco, taninos presentes, um pouco irreverentes, especiado e frutado, madeira integrada, encorpado e final tenso e volumoso. Escolha acertada para carnes maturadas. RT 18 Russiz Superiore Sauvignon Riserva 2016 Itália / Collio / Branco / Marco Felluga 24,00€ / 11ºC Limão intenso. Nariz amplo, elegante, com frutas…

Os vinhos de hoje vão envelhecer melhor?

Os vinhos de hoje vão envelhecer melhor?

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". Saber envelhecer é uma virtude. Em tudo. As rugas de expressão são incomparavelmente mais atraentes do que um rosto plastificado acabado de sair da clínica da moda, alvo do tratamento do momento. Nada pior que o mascarar da autenticidade, que expor o artificialismo. Saber envelhecer é uma virtude. Em tudo. Um automóvel ou moto antigos que vão sendo alvos de sucessivas manutenções saem sempre beneficiados se mantiverem as peças originais. Toda e qualquer máquina que circula nas nossas estradas com o estatuto de clássico mas inputs modernaços deveria, pura e simplesmente, ser alvo de infração muito grave. Nada pior que o mascarar da…

Parte II Vindima de um 2022 difÍcil

Antes do copo, antes da garrafa e da adega: a vinha. Onde tudo começa e decorre um trabalho nobre de uma indústria sem telhado. Douro Se o Douro já é habitualmente diverso, então 2022 alarga ainda mais esse conceito. O Douro Superior, já é sabido, foi o que mais sofreu e o que terá somado, no final de contas, as maiores perdas, sobretudo devido à seca prolongada e aos episódios extremos de calor. Rita Marques, que tem o projeto Conceito Wines, em nome próprio, em Cedovim, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, para além de consultorias externas, vê 2022 como um “ano esquisito”. “Temos quebras na ordem dos 30 a 35% mas em termos de qualidade temos uma uva sã. O que colhemos antes das chuvas está bom apesar da…

Parte II Vindima de um 2022 difÍcil

QUINTA DO CRASTO

“Todos os anos perdem-se uns hectares largos de vinhas velhas no Douro e isso é dramático”. O alerta de Tomás Roquette, produtor da Quinta do Crasto, ecoará certamente nas mentes que percebem que a vinha velha, boa parte mais do que centenária, é um importante fator de diferenciação, não apenas dos vinhos do Douro mas da generalidade dos vinhos portugueses. Encarar a realidade de frente será o primeiro passo para tentar perceber como poderá ser contrariada o que para muitos é vaticinado como inevitabilidade. Sim, a planta é um ser vivo que, como qualquer outro, um dia acabará por morrer. No entanto, existem hoje ferramentas de estudo e de análise que podem contribuir para perpetuar as melhores características das parcelas de videiras antigas. Em 1918, quando Constantino de Almeida adquiriu a Quinta…

QUINTA DO CRASTO
A estética do vinho

A estética do vinho

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Quais são os melhores vinhos de Portugal? A Niepoort está a fazer vinhos melhores do que Vale Meão? Chryseia é melhor que Barca Velha? O Douro é mais interessante como região do que o Alentejo? O sabor da madeira nova de carvalho num vinho é defeito? E quando é que a Brettanomyces se torna um problema ou é aceitável? Todas estas são perguntas colocadas no setor dos vinhos, mesmo que não sejam formuladas de maneira tão explícita. Estamos continuamente a comparar vindimas, produtores e vinhos, e muitas vezes temos um grau de concordância entre nós. Mas…

Garrafeira! Reserva! Superior!

Garrafeira! Reserva! Superior!

Nos vinhos portugueses com direito a DO (Denominação de Origem) e IG (Indicação Geográfica) aparecem alguns designativos, também intitulados como menções tradicionais, que podem ser utilizadas na rotulagem do vinho e devem constar de contas-correntes específicas. Apesar de alguns ajustamentos de região para região, pois cada CVR estabelece normas regionais e os critérios técnicos para cada menção, é por vezes pelo facto de esses vinhos obterem mais alguns pontos na câmara de provadores que se determina a certificação, comprovada por um “selo” na garrafa. Conheça as menções regulamentadas mais frequentes nos vinhos: 1/Colheita selecionada, menção reservada para vinho que apresente características organoléticas destacadas e um título alcoométrico volúmico adquirido superior, pelo menos, em 1% ao limite mínimo legalmente fixado, sendo obrigatória a indicação do ano de colheita; 2/Escolha, menção reservada para vinho que…

A nossa rentrée e com novidades!

O mérito do trabalho árduo não procura ou quer o elogio, a honra, o prémio ou a felicitação. Merece o reconhecimento do valor, daquilo que aporta para a concretização de uma ideia ou projeto, seja para a afirmação de um setor, de uma indústria ou área de conhecimento, de investigação ou de negócio no qual se insere e para cuja evolução contribui. Felizmente, em Portugal, há muitos e bons exemplos, que me têm servido de inspiração para tentar fazer sempre melhor e procurar ir mais além. Setembro é o mês por excelência das vindimas. É também o tempo do regresso às aulas e, na maioria dos ofícios, o recomeço de uma nova temporada. Gosto de encarar este mês como o ponto de partida para um novo ciclo, um tempo para criar…

A nossa rentrée e com novidades!

Podas

Nem sempre com o protagonismo merecido, muito ofuscada pela operação cultural imediatamente anterior - a vindima -, a poda é uma das etapas mais importantes do ciclo da videira. Tem vários objetivos e para ser bem executada carece não apenas de um bom conhecimento teórico como também de largos anos de experiência do podador. Começamos nesta edição pelos objetivos e cuidados e na próxima sobre os tipos de poda. Tida por muitos como uma lenda, a verdade é que poderia encaixar-se na realidade e ser uma explicação fidedigna, de um ponto de vista agrícola. A “invenção da poda” foi atribuída a um burro que, preso a uma cepa, terá começado a roer e a comer algumas varas. Surpresa do agricultor quando no ano seguinte vê a videira com um vigor e…

Podas
2021 Boas Compras

2021 Boas Compras

17 Dona Maria 2020 Alentejo / Rosé / Júlio Bastos 8,35€ / 11ºC Salmão brilhante. Muito elegante desde o primeiro contacto, com fruta subtil, bagas vermelhas e pêssego, e um toque mineral fumado ao fundo. Corpo médio, belo equilíbrio entre a fruta de caroço mais madura na boca, e a frescura e sapidez a garantirem tensão na estrutura. O final é de boa persistência. NGVP 17 Torre de Aguiã Premium Vinhão 2020 Vinho Verde / Tinto / Simão Pedro Vasconcelos Bacelar de Aguiã 6,50€ / 16ºC Negro, rebordo azulado. Notas de cereja fresca, mato, folha seca e engaço. Tanino portentoso, muito boa acidez, grande volume mas sempre fresco. Termina longo e cheio de sabor. De estilo clássico, é um Verde tinto que tem tudo! JJS 16,5 Fresh From Amphora 2020 Regional Alentejano / Branco / Herdade do Rocim 12,00€ / 11ºC Amarelo pálido. Nariz…

A árvore, a floresta e a dimensão de pensamento

O que vê um velho do Restelo quando olha para uma floresta? Apenas a árvore. Portugal ser o centro de atenção do "The Wine Show", a mais famosa série televisiva dedicada ao vinho, com audiência e impacto mundiais num tempo como o que estamos a viver, é dispor de uma campanha de promoção brutal à escala do mundo. Independentemente de se poder ou não viajar, a série contribuirá para manter Portugal no imaginário e na lista de destinos de quem gosta de viajar, dos entusiastas do vinho e da gastronomia, dos apreciadores de cultura, património e natureza, dos que não resistem ao apelo do mar ou à tranquilidade de uma planície, dos que já planeiam uma próxima escapadela. Simultaneamente, contribuirá para afirmar os vinhos portugueses, fazendo com que muitos consumidores…

A árvore, a floresta e a dimensão de pensamento
TOP 30 EXCELÊNCIA

TOP 30 EXCELÊNCIA

Dos milhares de vinhos provados em 2022 pelo painel de provadores da Revista de Vinhos, abrangendo um vasto leque de segmentos e perfis de consumo, estilos e categorias diversas, existem alguns de que se destacam, pelo seu perfil, carácter e identidade. São estes vinhos de Excelência que damos agora a conhecer, aqueles que consideramos os melhores entre os melhores do ano. Neste Top 30 de vinhos que alcançou o selo “Excelência”, a Revista de Vinhos enaltece o topo da produção nacional nas mais diversas categorias, das mais diferentes regiões. Um ano de Excelência, representado em 30 grandes vinhos que garantem ainda melhores momentos de prova. Adega Mayor Reserva do Comendador Altitude 2017 ADEGA MAYOR . REGIONAL ALENTEJANO Rita Nabeiro é a mentora dos vinhos Adega Mayor. Este Reserva do Comendador Altitude 2017 é mais…

JOÃO TIAGO MARTINS

Portugueses que se destacam no vinho e na gastronomia e que o fazem fora de Portugal. Como foi a sua infância? Nasceu em Lisboa, correto? Correto. Nasci em Lisboa. Vivi no Brasil e em Inglaterra com os meus pais. Regressei a Portugal, para o Porto, com a minha mãe. A família ou amigos tinham já alguma ligação ao mundo do vinho? Venho de uma família com tradições na produção do vinho, no Douro, e tive uma grande influência francesa por ter uma tia com raízes na Alsácia. Portanto, a nossa mesa era rica em queijos franceses, belgas e vinho português, claro. Estudou na Universidade do Minho. Em que área? Estudei Gestão e Economia, pois sou um apaixonado por estratégia e sempre foi uma área que me suscitou curiosidade. Sempre se imaginou a trabalhar na área dos vinhos? Jamais.…

JOÃO TIAGO MARTINS

Dê-lhes uma oportunidade. Eles merecem.

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". Se o consumidor português soubesse tanto sobre Vinho do Porto quanto o consumidor dinamarquês estaríamos bem melhor. Pode parecer heresia ou provocação mas não o é. Caro leitor, acredite, é tão-somente uma constatação. É uma delícia conversar com dinamarqueses acerca de Vinho do Porto. O conhecimento que apresentam e, sobretudo, a curiosidade que manifestam sobre o tema, entusiasmam qualquer português que goste do que está a falar. Na Dinamarca, a exemplo de alguns outros países nórdicos e centro-europeus e outros estados norte- -americanos menos óbvios, por exemplo, é comum existirem os wine clubs, clubes de vinho que reúnem conjuntos mais ou menos…

Dê-lhes uma oportunidade. Eles merecem.

QUINTA DA COSTA DO PINHÃO Os vinhos de um especialista em estruturas

Parece um contrassenso que alguém cuja área de trabalho, especialização e investigação académica em engenharia civil e estruturas procure elaborar vinhos cujo perfil é o mais distante possível de exemplares com concentração, potência e extração. Miguel Morais, proprietário, juntamente com a irmã, da Quinta da Costa, junto ao rio Pinhão, é professor auxiliar do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, onde leciona disciplinas na área das estruturas, e doutorado na área por Cambridge. Porém, o destino e a herança familiar aproximaram-no do mundo do vinho. A Quinta da Costa do Pinhão, situada na freguesia de Soutelinho, pertence à família Lobato de Sousa há mais de seis gerações. Desde sempre, as uvas ali produzidas eram destinadas à produção de Vinhos do Porto vendidos às grandes casas. Não é por acaso…

QUINTA DA COSTA DO PINHÃO Os vinhos de um especialista em estruturas

Um vinho de ensinamentos

O Legado é um vinho de afetos, ainda em vida teimosamente imaginado por Fernando van Zeller Guedes. Apaixonado por oito hectares de uma vinha centenária da Quinta do Caêdo, Ervedosa do Douro, insistiu com o enólogo Luis Sottomayor que daquele blend natural haveria de sair um vinho de exceção, um testemunho, um legado para as posteriores gerações. Nunca nos havíamos sentado numa sala de aulas para apreciar uma refeição de autor harmonizada com vinhos. Aconteceu no lançamento do Legado 2016, jantar que decorreu no Colégio das Caldinhas (Colégio Nun’Álvares), em Santo Tirso. Fernando van Zeller Guedes iniciou ali os estudos, em 1943, antes de prosseguir para a universidade e ter tirado o curso superior de Enologia em Dijon (Borgonha, Bordéus), tendo sido dos primeiros enólogos formados de Portugal. Curiosamente, um dos filhos, Manuel…

Um vinho de ensinamentos

Adega José de Sousa

A Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz, representa um Alentejo vitivinícola diferente do que estamos habituados nos nossos dias. O Alentejo das grandes casas agrícolas que, além das adegas cooperativas que começaram a existir a partir das décadas de 1940-50, eram os únicos produtores com marcas comerciais. Paralelamente, havia o vinho de produção doméstica para autoconsumo, normalmente a partir de uma pequena vinha própria. O Alentejo foi durante um período longo demais o “celeiro de Portugal” e a vinha foi desaparecendo. A Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes era, assim, uma propriedade histórica do Alentejo, com produção de vinho desde 1878, inserida numa das zonas da região que perpetuou a cultura da talha, Reguengos. Era famoso o seu Tinto Velho que ficou na memória coletiva até hoje. A…

Adega José de Sousa

NOVA IORQUE Um mini-guia onde comer (e fazer jejum)

Há uns seis anos que não visitava a cidade, mas fui acompanhando à distância o que se tem passado por lá, nomeadamente em termos gastronómicos. Com o levantamento da maior parte das restrições sanitárias, as atividades voltaram em grande. Ainda não é aquele frenesim nas ruas que torna quase intransitáveis as principais artérias de Manhattan, mas para lá caminhamos. Ainda assim, nota-se uma atmosfera diferente. Não me refiro ao aroma a erva que se sente a cada esquina, devido à recente legalização da canábis para fins recreativos, mas sim a um certo estado das coisas que parece ter tornado o lugar numa cidade cada vez mais exclusiva e a requerer um maior planeamento por parte de quem a visita. Os restaurantes estão caros e cheios Com a pandemia, houve restaurantes que fecharam…

NOVA IORQUE Um mini-guia onde comer (e fazer jejum)

Casa do Valle UM BLEND DE EQUILÍBRIOS

Para ver e ouvir Da combinação entre o nervo minhoto e o porte transmontano resulta o equilíbrio dos vinhos da Casa do Valle. Há frescura mas não há facilitismo, há volume mas não se perde vibração. Estamos numa das zonas de fronteira da região dos Vinhos Verdes. Se imaginarmos uma reta em direção ao mar ficaremos a 90 quilómetros de ondas e marés, mas este Minho de transição para Trás-os-Montes é muito mais continental, abrigado que está pelas serras do Alvão, Barroso e Marão (alto de Velão). O rio Tâmega vai correndo pacato nos baixos das diferentes parcelas de vinha. Na margem direita da freguesia de Cavez, em Cabeceiras de Basto, os solos são de matriz granítica, franco-arenosos. Na margem esquerda, na freguesia de Cerva, em Ribeira de Pena, temos chão de…

Casa do Valle UM BLEND DE EQUILÍBRIOS
Douro que se apura

Douro que se apura

Para ver e ouvir António Boal é um eterno insatisfeito. No Douro e em Trás-os-Montes, regiões onde já possui lastro, é evidente o apuro que procura conferir aos vinhos. No Alentejo, a empreitada mais recente, o futuro tratará de o dizer mas é bem provável que o mesmo aconteça. Com o enólogo Paulo Nunes encontrou o caminho que pretendia, um equilíbrio entre vinhos bem elaborados e de preço mais competitivo, através do volume gerado, e edições mais limitadas, que mostram o carácter de solos e de castas e que expõem, de modo mais evidente, a criatividade enológica. Foi no restaurante O Nobre, em Lisboa, com a amiga de longa data, Justa Nobre, que António Boal apresentou à imprensa as mais recentes novidades do Douro. Sublinhado maior para o Costa Boal Undated, lote de vinhos…

MARIA DE LOURDES MODESTO A importância de ser útil

Maria de Lourdes Modesto teve bastante reconhecimento em vida. Mas mereceu sobretudo a unânime admiração de toda a gente ligada profissionalmente à gastronomia e de milhões de portugueses. É das nossas idas aos restaurantes que sinto mais saudades. Estar à mesa com Maria de Lourdes Modesto valia por um curso, com a vantagem de ela nunca adoptar um tom professoral e da sua companhia ser muito divertida. Uma das primeiras recordações que me vem é de uma visita a um restaurante de Lisboa onde a empada de perdiz tinha grande fama. Pois bem, apesar do prato estar a justificar essa fama, encontrámos um pequeno osso no recheio. Não liguei muito, era apenas um pequeno descuido, mas Maria de Lourdes Modesto tinha outra opinião: “Isto é muito mau, é um prato que…

MARIA DE LOURDES MODESTO A importância de ser útil

ESCOLHAS DO MÊS

18,5 Laurent-Perrier Alexandra Rosé 2004 Champagne / Espumante / Laurent-Perrier 349,95 € / 8ºC Rosa, levemente acobreado. A bolha é fina e o cordão persistente e regular. Às notas de fruto seco, como avelã e noz, juntam-se a fruta vermelha elegante e fresca, mesmo que compotada, e leve herbáceo. Bom volume, acidez vibrante, leve percepção de doçura, bem doseada e equilibrada na mousse texturada. 18 Pol Roger Brut Vintage 2015 Champagne / Espumante / Pol Roger & Cie. 70,00 € / 8ºC Amarelo limão, cordão muito fino e persistente. Notas de fumo, maçã, citrinos, cereja e massapão. Acidez que refresca, estrutura firme e simultaneamente delicada, perceção tostada no final. Subtil e elegante, certamente versátil com gastronomia. 18 Quinta do Cabril Grande Reserva 2016 Douro / Tinto / Quinta do Cabril 22,90 € / 16ºC Carmim médio. Sinal de decantação obrigatória. Boca de grande profundidade,…

ESCOLHAS DO MÊS

E, NO ENTANTO, MOVE-SE

“Eppur si muove”. Terá sido esta a frase que Galileu Galilei murmurou depois de rejeitar publicamente a sua teoria heliocêntrica, sob ameaça de arder na fogueira, diante de um tribunal da Inquisição, em Roma, no ano de 1633. Com ela, a convicção de que o planeta Terra gira em torno do sol. E, no entanto, move-se, terá dito. O ano que passou foi certamente o mais difícil das nossas vidas, ainda mais cruel se pensarmos que os primeiros meses de 2020 apontavam para resultados sem precedentes em todos os setores de atividade, com especial impacto positivo no turismo e hospitalidade, na restauração e gastronomia, na distribuição e exportação de vinhos, enfim, um ano para recordar. A chegada da pandemia, com toda a sua força, veio colocar um travão nestes objetivos e,…

Sulfuroso, sulfitos e sulfetos no vinho: o que são?

Sulfuroso, sulfitos e sulfetos no vinho: o que são?

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. Quem esteja a ouvir alguém a conversar sobre vinhos, não demorará muito para que o termo sulfuroso venha à baila. É ampla - e incorretamente - usado em muitos contextos de forma abrangente para designar três entidades químicas distintas e é, seguramente, um tópico que provoca muita confusão. Os termos químicos são sulfuroso, sulfitos e sulfetos, todos diferentes e desempenhando várias funções na vinha e na adega. Sulfuroso ou enxofre Primeiro, vamos tratar do sulfuroso, também conhecido como enxofre. Trata-se de um dos elementos químicos da tabela periódica, com o número 16, o quinto mais comum na…

Vem aí o melhor Encontro de sempre!

Por demasiadas vezes caímos na tentação da monotonia ou do pensamento fácil. Somos humanos e a sensação de conforto leva-nos com frequência a abrandar, a deixar as coisas como estão, sobretudo quando resultam. Com isso corremos o risco de estagnar ou não ver o óbvio – a realidade está em constante mutação, o mundo de amanhã será necessariamente diferente do mundo de hoje. Gostamos de nos sobressaltar para ir mais longe. Acompanhamos tendências sem ignorar o que há muito é bem feito e acreditamos convictamente que, assim, estaremos a ir mais além. Nesta edição da Revista de Vinhos estreamos duas novas secções que pretendem corresponder a anseios legítimos de vários leitores: a evasão e o desfrutar de espirituosos e da criatividade mixologista. São áreas complementares ao vinho e à gastronomia, que continuam…

Vem aí o melhor Encontro de sempre!

PARRAS WINES

Luís Vieira tem um passado familiar ligado ao mundo do vinho, através do seu pai e avô, António Gomes Vieira, carinhosamente apelidado “Ganita”. Não é por isso de estranhar que o seu percurso profissional esteja também intimamente ligado ao vinho. E, quando dizemos intimamente, não desmerecemos o epíteto: é que, quando tinha cinco anos de idade, Luís Vieira caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fora um colaborador do avô Ganita tê-lo de lá retirado. Nascido em Fátima em 1972, Luís Vieira cursa Economia na Universidade Católica de Lisboa e a sua vida profissional pareceria destinada a assumir os negócios familiares ligados à cerâmica. Mas o vinho que o batizou aos cinco anos de idade falou mais alto e decretou o regresso da Argentina, para onde tinha ido…

PARRAS WINES

MARC PINTO

Por vezes é impossível dissociar a ideia da inevitabilidade das coisas, de um destino certo antes mesmo de o ser. Talvez, hoje, Marc Pinto, sommelier do Fifty Seconds by Martin Berasategui, olhe para trás e se dê conta deste, eventual, desígnio. Nasceu em Soissons, França, em fevereiro de 1990, bem próximo de Reims, terra nuclear da famosa região de Champagne. Pouco tempo depois a família estava de regresso a Portugal e a Santa Maria da Feira. Já em criança ajudava os pais, de forma espontânea, num restaurante. A sua recompensa era o sorriso. A boa disposição de alguns clientes e umas quantas guloseimas. De certo modo, e pouco a pouco, o primeiro esboço do seu percurso e da sua postura começavam a tomar forma, ainda que instintivamente. Mas o verdadeiro espírito…

MARC PINTO

Vizinho Vinhateiro

Entre Viseu e Tondela, na aldeia do Farminhão, um jovem casal de ascendência gaulesa adquiriu e fixou-se na Quinta da Roda da Quintã, onde produz os vinhos recentemente lançados sob a designação Vizinho Vinhateiro. Quem diria que, por trás destes vinhos, há um conceito com séculos de história, que nos remete para a Alsácia? Charlotte Hugel, parte da 13ª geração da família que se fixou na Alsácia - onde produz os seus celebérrimos vinhos desde 1639 - veio para o Dão na companhia do marido, o enólogo Paul Chevreux, que conheceu em Portugal, quando ambos trabalhavam nas caves Graham’s. Na Quinta da Roda da Quintã, localizada na aldeia de Farminhão, próxima de Viseu, instalou-se recentemente um jovem e discreto casal de origem francesa, com vista a perseguir o seu sonho de produzir…

Vizinho Vinhateiro

VILLA OEIRAS

É já usual dizer-se que Portugal é um país abençoado pois é berço de alguns dos melhores vinhos fortificados do mundo: Vinho do Porto, Vinho Madeira, Moscatel de Setúbal e do Douro, são os mais citados. Mas há um vinho fortificado português, que esteve perigosamente à beira da extinção, elaborado mesmo às portas da capital, que não é (injustamente), tão reconhecido ou mencionado. Esse vinho chama-se Carcavelos. Nesta demarcação, a mais pequena do país, que abrange as freguesias de Carcavelos, Parede, São Domingos de Rana e parte das freguesias de Alcabideche, no concelho de Cascais, e parte da freguesia de Oeiras e São Julião da Barra e parte da freguesia de Paço de Arcos, em Oeiras, subsistem cerca de 25 hectares de vinhas que dão origem a um generoso que foi…

VILLA OEIRAS

Fizzy Britain!

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". No ano do Jubileu de Platina da Rainha, pareceu-me apropriado dedicar um artigo à crescente fortuna dos vinhos do meu país. Por essa razão, inscrevi-me na prova anual Wines of Great Britain - pela primeira vez em mais de uma década. Mal poderia saber que, no momento em que assinava a inscrição, esta ilha iria reverter para um 'trono real de reis' (como disse Shakespeare) após a morte repentina de Sua Majestade. O reinado de 70 anos e 214 dias da rainha Isabel II foi o mais longo de qualquer monarca britânico. Durante a maior parte da segunda era elisabetana, os vinhos da Grã-Bretanha eram alvo de piadas. Produzidos por…

Fizzy Britain!

O “PROTETOR SOLAR” DAS VIDEIRAS

Antes do copo, antes da garrafa e da adega: a vinha. Onde tudo começa e decorre um trabalho nobre de uma indústria sem telhado. Nem só o homem sofre com os efeitos das alterações climáticas que têm tornado mais frequentes certos episódios climáticos extremos. A última vaga de calor, no início de julho último, trouxe à Península Ibérica e mais tarde à restante europa, temperaturas pouco comuns, mesmo para um mês como julho. A estação meteorológica do Pinhão – Santa Bárbara (Viseu) registou 47ºC. Um valor que ficará inscrito nos registos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) por muitos anos, já que o valor anterior máximo para o mesmo mês tinha sido de 46,5ºC na Amareleja, no Alentejo, em julho de 1995. Para além do pico de temperatura,…

O “PROTETOR SOLAR” DAS VIDEIRAS

Os caminhos da sustentabilidade

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Nem por acaso, Londres estava a sufocar com uma onda de calor quando entrevistei o engenheiro ambiental João Barroso sobre alterações climáticas. A temperatura havia excedido 30 graus centígrados durante toda a semana e estava previsto subir acima de 40 graus - o clima mais quente alguma vez registado no Reino Unido. Somos uma nação em busca do sol, mas lá estava eu, ​sentada ao lado de um ventilador, persianas descidas, cortinas fechadas, a esconder-me da radiação solar. E, para mim, até foi fácil. Durante toda a semana, João Barroso – gestor de Sustentabilidade da Comissão Vitivinícola do Alentejo – enfrentou temperaturas diurnas escaldantes de 45 graus centígrados e…

Os caminhos da sustentabilidade

A reinvenção de Espanha

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. No arranque de cada ano, tenho por hábito analisar todas as notas que escrevi sobre os vinhos que provei nos últimos 365 dias, para destacar alguns. E, este ano, fui surpreendido pela quantidade de vinhos oriundos de Espanha. Quando comecei a dedicar-me aos vinhos, a Espanha não era o país mais interessante. Os vinhos mais famosos eram os tintos de Rioja e Ribera del Duero estagiados em carvalho. Ambas as regiões foram histórias de sucesso comercial. O público parecia gostar muito dos vinhos e, especialmente no caso de Rioja, ofereciam também uma ótima relação custo-benefício. O…

A reinvenção de Espanha
Textura, para que te quero

Textura, para que te quero

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Perdoem-me por citá-la novamente mas, no artigo da última edição, utilizei uma bela frase feia de Virginia Willcock, ou seja, “full solids” (reportando-se às partes sólidas da uva). A enóloga transformou o Heytesbury Chardonnay da Vasse Felix num ícone australiano ao vinificar o mosto turvo de Chardonnay nas partes sólidas. Fazê-lo desta forma confere complexidade e sabor. E destaca as alegrias da textura - qualidade que tem recebido a minha atenção ultimamente porque, quando pensava que seria finalmente seguro sair, a Covid apanhou-me. O meu olfato e paladar desapareceram sem licença. Incapaz de provar durante três semanas, tornei-me consciente das delícias da lasanha escorregadia e do molho bechamel aveludado. Percebi…

NOTÍCIAS

NOTÍCIAS

Terras & Terroir investe na Bairrada O grupo Terras & Terroir, detentor da duriense Quinta da Pacheca e, mais recentemente, da São José do Barrilário, também na região do Douro, da Quinta da Teixuga e Caminhos Cruzados, no Dão, bem como da Quinta Dona Adelaida, em Valpaços, onde criou o Olive Nature Hotel & Spa e produz azeite, prossegue a sua estratégia de diversificação nos investimentos realizados. Desta feita, a empresa de Paulo Pereira e do casal Maria do Céu e Álvaro Lopes entrou no capital da Quinta do Ortigão, na Anadia, sendo que a equipa responsável da quinta bairradina mantém-se na íntegra, ficando o gestor Pedro Alegre com parte da sociedade. A Quinta do Ortigão é constituída por 15 hectares de vinhas, onde estão plantadas as castas típicas da Bairrada, nomeadamente Maria…

Alma de Portugal em Seul

Alma de Portugal em Seul

Debra Meiburg é uma californiana radicada há mais de 25 anos em Hong Kong. “Master of Wine”, autora de vários livros, é considerada a mais influente líder de opinião sobre vinhos na China. Tornou-se presidente do Comité de Educação do Instituto de Masters of Wine em 2017. No movimentado bairro de Itaewon, no coração de Seul, reside uma pequena parte de Portugal. A Namsan Winery, fundada em 2015, é o projeto de paixão de Taehyun Kwon (também conhecido como Xico) e o único ‘wine bar’ e restaurante coreano dedicado a Portugal. Rodeada por arranha-céus numa movimentada zona de entretenimento, a humilde loja da década de 1980 é um eco de tempos mais simples. A pequena mas unida comunidade portuguesa de Seul reúne-se na Namsan, embora não seja o seu habitual 'bar de…

Quão baixo se pode descer?

Quão baixo se pode descer?

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Quando, ainda o ano passado, a Decanter publicou um artigo sobre vinhos de verão com baixo teor alcoólico, a fasquia foi fixada em menos de 12% de álcool por volume ('abv'). Naturalmente, este alinhamento incluía um Vinho Verde 'clássico', cujo teor alcoólico deve variar entre 9% e 11,5%. Mas, à medida que as cada vez mais complexas e inovadoras bebidas alcoólicas com teor alcoólico reduzido ou nulo ('nolo', corruptela de ‘no and low’) - não excedendo 1,2% ou 0,5% - atingem o mercado e alimentam tendências de consumo, a indústria do vinho enfrenta uma nova ameaça. Deve oferecer produtos de volume alcoólico ainda mais baixos, dada a mudança acentuada…

Objeção de consciência? Não, apenas tontice.

Objeção de consciência? Não, apenas tontice.

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". Na época em que o serviço militar era ainda obrigatório para jovens de dois pelos no peito, lembro-me de ter estudado a possibilidade de esquivar-me ao abrigo da figura do “direito à objeção”. Qualquer cidadão poderá alegar convicções de natureza religiosa, moral, humanística ou mesmo filosófica para não cumprir determinadas obrigações legais. Pois bem, as minhas seriam de índole filosófica – sempre considerei não fazer sentido a obrigatoriedade do serviço militar e, naqueles tempos em que acreditamos piamente no amor e numa cabana, convenhamos que qualquer ordem de comando para lá do “peace and love” soa a ditadura. Constatei, todavia, que…

Andamos a brincar com o fogo?

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita, da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra". A Comissão Europeia (CE) anunciou nas últimas semanas que pretende banir a venda de veículos com motor de combustão a partir de 2035. A ideia, que será ainda debatida pelos países-membros, e que até ser posta em prática merecerá certamente muita discussão, é reduzir as emissões de CO2 em 55% até 2030, ou seja, os carros com motores a gasolina, diesel e mesmo os híbridos plug-in ficarão numa espécie de lista negra a abater. A CE quer ver a União Europeia (UE) a liderar o mundo nesta área, mas os construtores automóveis já fizeram saber que a coisa não será possível…

Andamos a brincar com o fogo?

DESAFIO DE LISBOA PRIMUS INTER PARES

A 24 de maio de 1976, uma prova cega, apodada de “Julgamento de Paris”, abalou o mundo do vinho, uma vez que os seus resultados tiveram consequências cujas ondas de choque se prolongaram até aos nossos dias. Isto porque, até à década de 1970, os vinhos europeus e, entre eles, os franceses, sobretudo das regiões mais prestigiadas, eram considerados os melhores do mundo, sem concorrência à altura, até porque os vinhos do chamado “Novo Mundo”, entre os quais EUA, Austrália ou África do Sul, não tinham a expressão mundial de que hoje gozam. Até que o especialista e negociante de vinhos britânico Steven Spurrier, fundador da reputada escola de vinho parisiense L’Academie du Vin, organizou na Cidade Luz uma prova cega entre vinhos franceses de renome e alguns vinhos norte-americanos, com o…

DESAFIO DE LISBOA PRIMUS INTER PARES

Microbiota: o lado oculto do terroir

José Peñin é um dos mais influentes críticos e ‘wine writers’ de Espanha, responsável pelo primeiro guia de vinhos do país irmão, o famoso Peñin, cuja primeira edição foi publicada em 1990. Atualmente, a palavra terroir é um aríete brandido pelo novo ‘connaisseur’ para se diferenciar do leigo, amplamente entendida como o principal elemento de identificação de um vinho. O terroir expressa-se pelo local de cultivo, os solos, clima e microclima, nas mãos do trabalho humano, dotado de amplo conhecimento da viticultura. Destes elementos, todos reconhecem que o solo desempenha um papel transcendental em relação aos minerais do subsolo e que estes imprimem a “personalidade mineral” do vinho. No entanto, os verdadeiros protagonistas dos sabores são os microrganismos, ou microbiota, que habitam os solos. Também não devemos esquecer que a vegetação…

Microbiota: o lado oculto do terroir

O novo valor das velhas cooperativas

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". A publicação do relatório 'Partygate' valeu a Boris Johnson um mês de junho 'colorido'. No entanto, as sondagens de opinião sugerem que 'Boris, the buffoon’ [algo que poderíamos traduzir como Boris, o Bobo] ainda é considerado melhor material para primeiro-ministro do que 'Sir Keir [Starmer], o aborrecido', líder da oposição do Partido Trabalhista. 'Carisma' é uma palavra que não corresponde ao perfil de qualquer um deles. Mas, ao contrário dos dois políticos, quando se trata de vinhos, falar em carisma é outra história. É muito fácil celebrar vinhos de culto, produtores de vinho e personalidades. O artigo deste mês é uma reapreciação de uma entidade vitivinícola bastante mais humilde, as…

O novo valor das velhas cooperativas
Crises de identidade

Crises de identidade

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective". Em junho, a Austrália apresentou uma reclamação na Organização Mundial do Comércio contra a China porque, o ano passado, o país que, de repente, tornou-se o seu maior mercado, impôs tarifas variáveis (de até 218%) sobre o vinho australiano. Mas, quando uma porta se fechou, outra se abriu. No mesmo mês, a Austrália concluiu um acordo de livre comércio com o Reino Unido para produtos agrícolas que, disse o governo do Reino Unido, “eliminará as tarifas sobre os produtos preferidos australianos, como os vinhos Jacob’s Creek e Hardys”. O vinho é a maior exportação agrícola da Austrália para o Reino Unido, por isso, os produtores de vinho australianos devem estar…

Os bolinhos da rainha

J.A. Dias Lopes é considerado a referência do jornalismo gastronómico no Brasil. Escreve atualmente na edição online da “Veja”, já colaborou com várias publicações e é ainda diretor de redação da “Gosto” e autor de vários livros sobre história e gastronomia. Os açorianos não sabiam o que fazer para acolher com mais carinho o rei Dom Carlos I (1863-1908) e a rainha consorte Dona Amélia (1865-1951), de Portugal e Algarves, quando visitaram o arquipélago em 1901. O casal e comitiva foram recebidos com aplausos, cerimónias magníficas e banquetes generosos desde que desembarcaram dos cruzadores Dona Amélia e Dom Carlos e São Gabriel, nos quais viajaram. Mas quem roubou a cena foi um bolinho à base de açúcar, gemas e claras de ovos, canela em pó, uvas passas, cidra, manteiga, farinha de milho,…

Os bolinhos da rainha

PACHECA

Para ver e ouvir Os novos proprietários da Quinta da Pacheca estão para ficar no vinho em Portugal. Após a aquisição dos Caminhos Cruzados, no Dão, criaram o Grupo Terras e Terroir, que haverá de se expandir no curto prazo a mais regiões do país. No Douro operaram uma pequena revolução na histórica Pacheca, harmonizando o aumento de propostas de vinhos a experiências de enoturismo que têm encantado milhares de visitantes. No final de 2020, Paulo Pereira e o casal Maria do Céu e Álvaro Lopes anunciavam a formação do Grupo Terras e Terroir, na sequência da compra do projeto Caminhos Cruzados, em Nelas. Para percebermos melhor a operação em Portugal temos que viajar até França. Maria do Céu Gonçalves é natural de Vila Real, mas aos dois anos acompanhou os pais na emigração…

PACHECA
As alterações climáticas e o vinho

As alterações climáticas e o vinho

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula. A publicação do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é de leitura deveras preocupante. As alterações climáticas, ou caos climático, como alguns se lhes referem (concordo com eles - enfatiza a urgência e imprevisibilidade das mudanças que enfrentamos) são uma grande ameaça para a humanidade. Neste contexto, parece um pouco leviano pensar em vinho mas, em alguns aspetos, o vinho é útil, pois atua como uma espécie de sistema de alerta precoce. Isso ocorre porque as uvas são muito sensíveis às mudanças de clima e o famoso viticultor Richard Smart descreveu a…

Um salto no tempo

Vinhos que evoluem no espaço ou cujo envelhecimento é atrasado no fundo do oceano. A Wine Detective investiga os vinhos que atravessam o túnel do tempo, cuja origem é, claro, portuguesa… Como guardar uma caixa de Pétrus Pomerol 2000? A sabedoria convencional dita que seja numa cave ou sala com temperatura e humidade controlados. Para os colecionadores que pretendem revender o Merlot mais caro do mundo, isso seria essencial. Mas, e se quiser bebê-lo? Os mais impacientes podem receber com um sorriso as novidades sobre alterações comportamentais e… um salto no tempo. Isto porque o dono de uma caixa de Château Pétrus 2000 acaba de expor os vinhos a um salto no tempo. Testando o impacto da microgravidade (gravidade zero) e da radiação, a Space Cargo Unlimited lançou-o para o espaço.…

Um salto no tempo

É UM WINE LOVER? DESFRUTE DA QUALIDADE DOS VINHOS EUROPEUS

E FIQUE IN LOVE PELO VINHO VERDE! O que realmente sabe sobre Vinho Verde? Nestas duas páginas partilhamos outras tantas dicas que o ajudarão a elevar a experiência de provar, partilhar e levar à mesa um Vinho Verde. 1. Mais do que Verdes, grandes vinhos brancos! A Região dos Vinhos Verdes é das maiores Denominações de Origem europeias em extensão territorial. A reconversão de vinhas ao longo das últimas três décadas permitiu à região tornar-se das mais competitivas em solo nacional, alavancando também exportações. Hoje, o Vinho Verde está presente em mais de 100 mercados externos sendo globalmente reconhecido pela singularidade dos vinhos brancos mais leves e frescos. Importa, todavia, perceber-se que a região vai muito além dessa realidade. Nas diferentes geografias da região nascem também vinhos brancos que são dos mais excitantes de…

É UM WINE LOVER? DESFRUTE DA QUALIDADE DOS VINHOS EUROPEUS

CR&F

Diamante em bruto É uma das marcas de espirituosas mais reconhecidas em Portugal. A aguardente Carvalho, Ribeiro & Ferreira – ou, de forma mais familiar, CR&F – possui uma notoriedade única, tão ímpar quanto o processo de elaboração que lhe está na origem. Para quem se recorda, foi um dos negócios mais importantes ocorridos em 2016, quando a CR&F passou a integrar o grupo João Portugal Ramos, que a recuperou para mãos portuguesas, depois de quase duas décadas na posse do grupo internacional Beam Suntory. Foi esta multinacional a responsável aliás pela transferência da produção e envelhecimento das aguardentes e brandies das instalações originais, no Carregado, para Vila Nova de Gaia, onde ainda hoje se mantém. Para além da marca em si, o negócio implicou a venda do stock, que atualmente cifra-se em…

CR&F
CACHAÇA

CACHAÇA

Símbolo de resistência face à Coroa Portuguesa, a cachaça é, desde sempre, associada ao Brasil. Foi o primeiro destilado da América Latina e conhece expansão crescente no mundo. Ao longo dos séculos, aliás, a cachaça tornou-se um símbolo de resistência face à Coroa Portuguesa, uma vez que o consumo substituía-se ao das aguardentes portuguesas, reduzindo assim o volume de rendimento fiscal da metrópole. “Inventada” no Brasil do século XVI, diz-se da cachaça que foi a primeira bebida destilada da América Latina, suplantando mesmo o rum em ancestralidade. Aliás, durante muitos anos verificou-se alguma confusão entre as duas categorias, já que a cachaça era importada pelos EUA como um tipo de rum. Era fácil o erro, até porque ambas provêm da destilação do melaço da cana-de-açúcar; este processo foi descoberta pelos escravos dos…

OCTANT HOTEL DOURO Elegância e design à beira-rio

Porque todos merecemos momentos de ócio e de pura preguiça. Localizado no km 41 da EN 222, o Octant Hotel Douro foi edificado em pedra de xisto e vidro num sistema de escarpa, emulando os patamares durienses. Com 61 quartos e cinco suites, apresenta toda a elegância de uma unidade de luxo. Junto ao rio Douro, na área conhecida como Douro Verde, em Castelo de Paiva, o renomeado Octant Hotel Douro, que veio substituir o Douro41 Hotel & Spa, impõe-se pelas linhas arquitetónicas arrojadas e pela contemporaneidade confortável do design que ostenta. Não é, por acaso, que esta unidade cinco estrelas foi incluída pelo fundo proprietário DHM – Discovery Hotel Management como parte da categoria Design Collection. Localizado no km 41 da EN 222 – e, por essa razão, recebeu o nome original…

OCTANT HOTEL DOURO Elegância e design à beira-rio

ANTÓNIO VENTURA

Celebrar quatro décadas de um percurso ímpar é, por si só, digno de nota e merecedor de amplo destaque. Mas, quando esse caminho foi trilhado num setor tão difícil e volúvel como o dos vinhos, numa filosofia orientada pela capacidade de inovação, estudo e aprendizagem constante, bem como pelo acompanhamento e abertura de tendências, da forma discreta, elegante e sábia como o fez António Ventura, a atribuição deste prémio torna-se mais do que justa – é elementar. Com efeito, o trajeto deste enólogo, que fez – e continua a fazer - grande parte do seu percurso nas regiões de Lisboa, Tejo e Alentejo, apesar de ter trabalhado em praticamente todas as regiões nacionais, fica marcado pela forma como António Ventura encara a enologia. Com espírito de missão, não isenta de sacrifícios,…

ANTÓNIO VENTURA

Chryseia 2020, um nativo da resistência

O Chryseia terá sido a maior pedrada contemporânea no charco do ainda muito recente historial dos DOC Douro. Mas, os anos cada vez mais secos e mais quentes podem ser inclementes. Até para ele… Alcançar finura em regiões quentes e em anos igualmente quentes não é nada fácil. Esse está a tornar-se num desafio recorrente para a Prats & Symington na elaboração do Chryseia, o vinho que desde a primeira edição, de 2000, rompeu o paradigma dos tintos do Douro de tanino portentoso e músculo ainda maior. Mais ou menos em surdina, muitos lhe criticaram a finesse das primeiras edições. Porém, com a passagem do tempo, tantos outros acabaram por o olhar como uma alternativa no entendimento do terroir. As distinções da “bíblia” norte-americana Wine Spectator – primeiro tinto português do “TOP…

Chryseia 2020, um nativo da resistência